sábado, 18 de junho de 2011

UM POETA NÃO MORRE - Regina Souza Vieira








Quando deixou Itabira, ainda jovem, iniciando a vida, Drummond parece ter decidido não mais voltar. Dentro de si já pulsava talvez a certeza de que, ao se separar de sua terra, uma emoção arrebatora viria vencê-lo se se dispusesse a visitá-la. Para muitos, havia um preconceito no poeta em relação a Itabira, mas a intensidade da obra literária, aludindo em verso e em prosa às peculiaridades ali vividas são suficientes para negar a hipótese. Os conterrâneos também se aperceberam da paixão exacerbada que o poeta levava em si da terra natal e, mais do que qualquer sentimento que pudesse colocar em dúvida a sua saudade, melhor seria admitir que o medo "Em verdade temos medo//nascemos no escuro//As existências são poucas" quem sabe, de um infarte arrebatador tenha-o impedido de visitar os locais da infância. Se todo o poeta é um pré-dotado e se Drummond deixou-se arrebatar pela falência cardíaca ante a morte de Maria Julieta em 1987, por que não admitir que esta premonição tenha-lhe tolhido os passos antes de pisar no torrão natal? Sim, eu mesma, numa homenagem ao poeta, publicada no meu livro Boitempo: autobiografia e memória em Carlos Drummond de Andrade, discorri: "Morre-se de mil motivos/ e sem motivo se morre/ De saudade morreu o poeta....



Carlos Drummond, "o homem atrás do bigode", tinha uma sensibilidade muito grande em relação ao mundo à sua volta. A sua obra em prosa, sobretudo suas crônicas, tornam sua obra engajada com o seu povo, com os seus contemporâneos e com o mundo à sua volta. "O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente"



Um homem assim, envolvido com pequenos burburinhos ouvidos na fila do ônibus, preocupado em despertar a consciência de todos para os problemas sociais que atrapalhavam uma vida melhor, conforme discorri na análise de sua obra em prosa A prosa à luz da poesia, jamais deixaria se arrefecer o amor por Itabira. E os seus conterrâneos, orgulhosos desse espírito elevado, uniram-se em linda homenagem em 2002, época do centenário. Avessa a entrevistas, defrontei-me ante o microfone da TV Alterosa, falei sobre o meu livro e senti no calor que recebi a gratidão que os itabiranos têm por seu filho ilustre.



Obrigada Drummond, provado está que UM POETA NÃO MORRE NUNCA!